terça-feira, 27 de fevereiro de 2018

Relato de Parto Chenia d'Anunciação

Publiquei esses relatos no face entre os dias 22 e 26 de abril de 2017.

Equipe:

Parteira Tradicional - Valdeci Santana (Dona Val) 
Doula - Hundira Cunha 
Fotógrafa - Brenda Matos

Local do parto - Itacaré /Bahia




Parto domicilar planejado após uma cesárea há sete anos. 


Zaya nasceu em junho de 2009, de uma cesárea após tentativa de um parto domiciliar. Quando engravidei do Benjamim a mesma certeza do local de parto, o domicílio. 
Escolhi parir em Itacaré, na casa da minha amiga, comadre e doula Hundira. Conheci a parteira Val no curso Cuidando da Matriz: o caminho das ervas, em maio de 2016, em julho do mesmo ano engravidei e em mim algo já estava posto, queria parir na companhia daquela mulher que com tanta sabedoria, dom divino e amor trouxe muitas luzes a esse planeta. Hundira foi peça fundamental na minha ida a Itacaré, me acolheu em sua casa junto com seu companheiro Fábio.
Viajei para Itacaré no dia 22 de março de 2017, minha DPP era prevista para o dia 07/04/2017. 



Sábado, 01 de abril de 2017


Lembro que era dia da mentira, senti uma pontada e fui tragada por um sentimento, como se tivesse atravessado, repentinamente, o portal das memórias e percebi que começava o início da nova jornada dos trabalhos. 
Desabrochei num misto de alegrias e medos, sabia que não tinha mais volta, pedi para tudo dar certo. 
#partodechenia
#nascimentodeBen
#partodiaum

Domingo, 02 de abril de 2017

Domingo começou logo cedo
Acordei determinada a limpar um pouco da casa, sabia que não poderia esperar muito tempo, eram dois de abril e esse bebê filho da lua crescente, abubdante, próspero, anunciador de boas novas. 
Vou abrir aspas aqui... Engravidei no dia 13 de Julho 2016, tinha plena consciência disso, kkk depois daquele vídeo do casal de Brasília ensinando o homem fazer sexo oral. Kkkk
Aquela data era lua crescente e reza a lenda que nove luas após a concepção irá-se parir, me preparei pra lua crescente de abril, 03 a 11 de abril, um ariano que desafio!
Comecei lavando o banheiro, algumas contrações dolorosas, suportáveis.
Zaya enchendo a bola para o parto
Parti pra cozinha, nela passei o dia todo, lavando, limpando e arrumando e nesse meio todo lavando roupas na máquina (isso me rendeu um desgaste no final do dia...contarei linhas abaixo)
Na cozinha, enquanto Zaya assistia TV senti tontura e a sensação de queda de pressão, aferi 90x40mmHg. Resolvi tomar um banho e descansar meia horinha, assim o fiz.
Passei o dia na faxina, mais por necessidade do que pelo aquele desejo que relatam que as mulheres sentem antes do parto de "arrumar o ninho, sou desprovida desses rompantes, odeio faxina
A noite Hundira chegou com Fábio, tinha ido pra Ilhéus na quinta.
Eu e Zaya passamos a maior parte do tempo em que estivemos em Itacaré sozinhas, senti falta da minha família e de algumas amigas como Carla de Miranda nesse período, mas me resignei e foquei no meu objetivo, repetia o mantra: "nem sempre é possível ter tudo e seu objetivo maior era vir parir em Itacaré".
Chorei em alguns momentos do dia, fiquei chateada em outros
A noite finalmente terminei de arrumar as as coisas e só queria um banho quente demorado antes de dormir...
A água acabou, não sabia que por aquelas bandas só caia água pela manhã, lavei três máquinas de roupas, banheiro, limpei cozinha e a porra da água tinha acabado, fui dormir muito chateada, quieta, suada e exausta.
Passei toda madrugada entre idas ao banheiro, xixis infinitos e contrações dolorosas bem espaçadas, não dormi nada bem, queria o banho... 
#partodechenia
#nascimentodeBen
#partodiadois


Segunda, 03 de abril de 2017

Ariano, filho da lua crescente, filho de abril, sempre o primeiro.
Acordei por volta das 3:15, com contrações dolorosas, passei a noite toda assim. Vi um pouco de netflix, o mesmo pão com ovo de sempre (Grey's Anatomy T12) e dormi também entre elas.
Vi o dia amanhecer numa dessas acordadas, fiquei esperando o barulho da água e finalmente pude tomar banho. Que alívio!
Desde quando eu cheguei queria comer caruru, fomos pra Vila para comprar algumas coisas para almoço, inclusive peixe. 
Aproveitamos e tomamos café na vila (não lembro o nome, mas era um lugar que vendia pastel se forno assado de forma não sei das quantas, era gostoso, comi dois) kkkkkk
Fomos em D. Lurdinha comprar a tal gengibirra ( suco de gengibre adoçado ou não, gosto doce)
Aff rodei tudo comprando as últimas coisas que faltavam (torneira, resistência, esmalte kkkk veja na foto minha tentativa se pintar as unhas.
Era super engraçado as contrações vinham nas horas mais inusitadas, o cara da loja de material de construção falou que desmaiaria se eu parisse ali kkkkkk)
Chegando em casa fiz uma moqueca, pirão, outras cositas, almoçamos todos e eu capotei até o início da noite.
Não lembro de mais nada nesse momento sobre a segunda a noite.
#partodechenia
#nascimentodeBen
#partodiatrês
#primeirobanhodoBen


Terça, 04 de abril de 2017

As luzes de Ben



Chegamos na terça, 04 de abril o dia que pensei que era, mas não foi.

Já no final da gestação desejei fazer um presente em agradecimento.
Logo após o carnaval  a coloquei o desejo em prática. 
Pensei em velas nos potinhos, elas foram entregues a pessoas queridas, somente as que eu encontrei pessoalmente, a intenção foi pedir que acendessem no dia que eu entrasse de fato em trabalho de parto. Criei uma lista de transmissão no zap e enviei uma mensagem a essas pessoas (foto nos comentários).
Se tinha algo que pra mim estava claro era que esse trabalho de parto não seria fácil, rápido ou suave. 
Ser doula, uma pessoa mental e controladora não favoreceria o meu processo. Além disso várias dores que carreguei durante a gravidez, não vou falar delas aqui, não esqueci das sacanagens, mas preferi me apegar a solidariedade, sororidade e no tantão de amor que recebi da minha família, dos meus amigos e de gente que nunca nem vi pessoalmente. A todxs vocês minha eterna gratidão.
Esse foi o dia de ajeitar tudo de fato para chegada do Ben. Levei piscina de parto, minha bolsa de doula (sábia decisão), e muita fé.
Não lembro bem como começou a terça, sei que Hundira foi dar aula e Fábio chegou depois do meio dia para ajudar a colocar a casa nos moldes do parto
Muitas contrações, chorei algumas vezes de dor e por me sentir sozinha, Zaya foi minha melhor companhia nesse processo.
As contrações eram efetivas, dolorosas, mas cade muco? Cade sinais que o colo está dilatando? Aquilo me apavorava, desanimava, sabia que apesar de tantas contrações meu colo estava fechado.... De novo os velhos fantasmas.
Velas feitas por mim para presentar
 Por volta das 14h um pouquinho de muco sanguinolento, ebaaaaa animei, as coisas estavam entrando nos eixos. 
Piscina foi enchida, Hundira chegou da escola no final da tarde, contrações a mil e cade mais muco? Cade os sinais ? Nada!
Ainda a tarde falei com a Brenda Matos que poderia vir, ela estava em Itabuna e faria o registro fotográfico. Ela chegou no inicio da noite e eu tava tão doida de dor que nem nos falamos direito.
Lembro que a dor era alucinante, mas que em algum momento da tarde eu senti falta dela entre as contrações, senti prazer dela estar ali e passei algumas contrações prazerosas, achei a sensação curiosa kkkk
A noite chegou, pensei que nasceria antes de meia noite (gargalhada de Chenia).
Oscilei entre segurar a onda e desespero absoluto. Por volta das 20:45 liguei pra minha irmã Si Roseli, chamou e ela não atendeu, liguei pra Carla de Miranda ela atendeu, ufa, chorei muito embaixo do pé da cajarana, ouvi sua voz calma e amorosa, sua narrativa sobre o parto da Rosinha, chorei outro tanto, me senti acolhida, era o que eu precisava naquele momento.
#partodechenia
#nascimentodeBen
#partodiaquatro
#asluzesdeBen

Velas acesas por Edlamar, Mainha, Sica e Fernanda, Betinha e Nailda

Restinho da noite de terça e Quarta, 05 de abril de 2017

Parto de Chenia
Nascimento de Ben (Benjamin)

A noite derradeira chegou era preciso aceitar o processo e parir.
Depois que falei com Carla no Telefone, não lembro bem o que veio na sequência.
Durante a gestação eu notei que movimentos traziam as braxtons (contrações de treinamento), subir escada, levantar do chão, caminhadas... Saquei que no trabalho de parto poderia ser a mesma vibe e foi. Eu queria muito ficar quieta, toda vez que me movimentava vinha uma contração, estava bem cansada, as dores eram um pouco acima do púbis, como se o bebê não tivesse entrado na pelve, era essa minha sensação, sentia sua cabeça martelando ali, reclamei muito desse incômodo, pois não conseguia me movimentar muito.

Em algum momento Zaya pediu meu celular, estava um pouco irritada e disse que não sabia onde estava, pra ela ficar quietinha que eu tava com dor.
Ela achou rapidamente o celular e veio até mim
-Mamãe, vou fazer o que você faz comigo quando não consigo dormir, vou colocar Rosa "Sassara" (Rosa Zaragoza ) pra você ouvir e relaxar. 
Só de lembrar desse momento eu choro de novo, agora nem consigo ouvir mais o cd de boa, que sempre choro.
Ouvi todo, ouvi feliz, Zaya é mesmo uma luz. Cada vez que eu pensava que não iria aguentar eu pensava nela, pensava na nossa viagem, nas nossas conversas, no seu desejo de ver um parto e de como aquele seria especial. Posso dizer que não desisti por ela, se eu tivesse no Português (hospital do meu plano em Salvador) teria feito uma peridural sem pestanejar, ou outra cesárea, mas tive medo de deixar ela sozinha, não seria justo, e não sou mulher de arregar.  Kkk
Sei que Hundira Cunha preparou um banho de assento com algodão e aquela água quentinha me ajudou bastante. Fiquei horas naquela bacia, cheguei a cochilar nela, ao som de Rosa Zaragoza de novo.
Consegui sair da bacia e deitar um pouco no sofá, cochilei, dormi, não sei bem.
Zaya apareceu de novo e me chamou pra deitar
-Mamãe venha pra cama, não quero dormir sozinha, já arrumei tudo.
Deitamos, dormi mais um pouco...
Acordei com mais dor....
Eita parto, quando liguei pra parteira ela estava com outra mulher se avizinhando ao trabalho de parto, não é que entrou?! 
Deus, divindades infinitas do universo, já diria a Banda Mel em Faraó....a mulher morava lá por Serra e Tia Val foi atender o parto e me sugeriu ir para sua casa que assim que saisse do parto me atenderia. 
Olhei pra aquela piscina cheinha de água quente, pensei nos paranauês que Fábio fez pra encher, eu ainda nem tinha entrado, pensei na saliva que tive que gastar com o motoboy, meu coligado, pra baixar o preço da corrida Lauro x Pituba de 70 para 50 pilas, pra ir buscar a piscina, lembrei da Paralela engarrafada nos dois sentidos por conta de dois acidentes, hora do rush, minha bunda dolorida naquela viagem.... Enfim, definitivamente não ia sair dali. Kk
Eu disse que aguentava, que achava que ia demorar. Pedi a Hundira pra fazer um toque e o que eu esperava colo fechado. 


Tive um ataque, queria ir pra Serra pra poder auscultar o bebê, fiquei retada porque Hundira disse que o colo estava fechado e eu nunca digo a gestante sobre sua dilatação a não ser que ela queira saber...pirei na batatinha. Hundira me acalmou. 
Resolvi então que precisava relaxar de verdade e pedi um "fidiback", melhor escolha da noite... Alguma alma boa colocou Baiana System pra tocar, comi, todo mundo foi dormir e eu deitei um pouco, dei outra calibrada, dancei bastante no quarto durante as contrações, outra calibradinha fiz um chá de alecrim coloquei perto da piscina, comi horrores, e entrei na bendita, que tudooooo agradeci a mim mesma kkkkk
Fiquei ali a piscina, ouvindo o som, sentindo o cheiro do alecrim (a erva da felicidade), relaxei tanto que me masturbei até dormir de novo.
Suzana, ajudante de parteira de Tia Val mandou uma mensagem que o bebê tinha nascido, eram 1:32. Não acompanhei bem o processo, sei que foram buscar ela em Serra e ela chegou... Meu Deus que alívio. Primeiro toque oficial, 2cm, aff que alegria, não era mais colo fechado.
Dai em diante, dor, dormir, chorei até ter uma catarse, pirei outras vezes, o dia raiou e nada de parir.
Ah quando Tia Val foi auscultar eu sentada, bebê tão alto que pensou que  ele tinha ficado pélvico (sentado). Isso logo se desanuviou.
Tia Val preparou outro banho de assento super quente e habitei umas duas horas aquela bacia.
Pude me tocar algumas vezes e ia vendo o dedo entrando menos, senti a bolsa, aff que alegria, tava perto, eu ia parir

Levantei outra pessoa, a  dor tinha mudado de padrão, a dilatação progrediu e eu fui tomar sol, coloquei a  bola no terreiro e quiquei, rebolei, suei, minha vontade era rolar na terra e ficar deitada de barriga pra cima tomando sol nas partes como as cachorras estavam fazendo, que inveja!
Isso já era perto de  meio dia. 
Entrei em casa e comecei a sentir os puxos (vontade de fazer força)... Começou o se ajeita pra parir.
Ouvi que Aranda chegou, senti uma grande alegria ao ouvir  voz, não sei porque, depois ouvi que ela ia preparar o almoço, pedi pra não colocar corante (colorau), detesto! Kkkk
Mudei a posição, puxos mais fortes, senti o muleque vindo, senti o círculo de fogo intensamente, ouvi o coro de mulheres gritando "VAI COMADRE" e fui, com dor, com força e com alegria, eu tava parindo, pqp, senti a cabeça sair e outra contração e  corpo quentinho do Ben passou por mim, pelas minhas entranhas, quw sensação!
Olhei pra baixo e o  vi, quase uma miragem, consegui eu pensei. Olhei pro alto e vi Zaya com a mao na boca, pasma!


Não chorei, peguei no meu colo, deitei no sofá pedi o celular e fiz uma chamada de vídeo pra minha mãe, depois pra minha sobrinha Fernanda Swan.
Senti seu corpo quente, seu cheiro, cordão pulsando, Zaya o tocou também ficamos ali.
Pouco depois a placenta dequitou com a ajuda de tia Val, comi um  pedaço dela com shoyo.
Ben nasceu as 13:49 do dia cinco de abril
Pari na casa da minha comadre Hundira em Itacaré, sagrado  o dia que ao entrar no MT 7 da Uefs ela veio gritando da outra ponta, Cheniaaaaa vou morar com você.
Preciso inventar outra palavra, porque gratidão não dá mais conta.
O sagrado existe e ele vive também em mim.
Eu consegui!!!!

#partodechenia
#nascimentodeBen

#partodiacinco
Pós parto imediato


Hundira (amiga, doula e comadre) e Fábio
Casa que Benjamim nasceu na Vila Marambaia, Itacaré-Ba.