terça-feira, 14 de agosto de 2018

Relato de Parto de Elaine Valadão. Nascimento de Igor 14/11/2017

Parto de Maria Elaine Valadão
Companheiro Lucas Miranda
Primogênito Bernardo
Nascimento de Igor
Local Templo da Terra, Fundação Terra Mirim-Ba
Data 14 de novembro de 2017
Doula Chenia d'Anunciação.

Conheci a Elaine, a recifense arretada em 2011, quando ela estava gestante do Bernardo. Nessa caminhada a Elaine se tornou doula e gere lindamente um grupo de apoio em Camaçari, o Prosa Gestante
Pense num orgulho retado que tenho dessa mulher que me chama de Minha Doula. kkkk.
O parto do Igor foi avassalador, fiquei impactada por horas, dias... menstruei dois dias após ter participado desse evento grandioso, eu ainda era puérpera do Benjamim, que tinha 7 meses a época. Sou grata a Elaine e ao Lucas, seu companheiro, por me convidarem mais uma vez para estar presente no momento mágico.
Hey Grande mãe
Hey Xamã. 

Obs. Os relatos de parto são escritos pela mulher, eu nunca os escrevo pois, é a mulher quem deve descrever como sentiu e percebeu seu parto. 

Relato do Parto de Igor

14/11/2017 – 39s+4d

Eu dormi bem, exceto pelas incontáveis idas ao banheiro. 
Já estava sentindo os sinais do meu corpo se preparando para aquele momento do parto. Contrações, tampão, energia! Estava sentindo também câimbras e incômodos do finalzinho mesmo, nada de novo. Me permiti reconhecer a ansiedade e a expectativa típicas de quem está prestes a viver um sonho: encontrar Igor e parir uma nova eu.
O dia amanheceu normal. Bê pra escola, pedidos para atender, um dia mais fresco pois estava nublado com chuva leve. Eu e Lucas ficamos de boa, namoramos e fomos para Salvador. Nesse dia (e nos dois últimos) recebi várias mensagens e ligações de mulheres fortes que fui reconhecendo ao longo desse caminho que se abriu com a maternidade/doulagem.
Fui na minha sogra pegar as matérias primas da Mãe Árvore, fomos em Chênia, comemos um bolo de laranja delicioso e ficamos caducando Ben, fofinho!
Bê já estava em casa e passamos a tarde juntos, fazendo pomadas. Depois Bê ficou com os amigos cuidando da vida serelepe e eu sentindo que algo estava diferente desde aquele namoro maravilhoso com meu parceiro. Não fiquei muito na expectativa, afinal já estava sentindo novidades a toda hora ao longo de algumas semanas. De noite recebemos um casal de amigos com sua bebê na nossa casa. Foi uma noite bem agradável, ficamos conversando sobre filhos e outras coisas regadas a ocitocina, comemos coisinhas gostosas e por fim nos despedimos (Ossanha, Safira e Fabricio).
Nesse dia Bê dormiu diretamente na nossa cama. Antes de dormir, estava zapeando o celular quando vi um vídeo de parto postado em algum lugar e resolvi assistir. Era um vídeo sem grandes qualidades, mas foi um lindo parto natural hospitalar. Naquele momento eu senti que encarnei a mulher que estava prestes a viver toda aquela emoção na carne e chorei desenfreadamente (a ponto de Lucas ir me ver para saber se eu estava bem, rs). Dormi em seguida, de alma lavada e entregue. Falei: preciso descansar, vai que engrena um TP...


14/11/2017 – 39s+5d
00:50 – Acordei com uma contração. Fui ao banheiro e vi tampão com sangue. Percebi ritmo e pedi pra Lucas observar intervalo e duração. 2/3 em 10 minutos, porém curtas, suportáveis, mas ainda sim decidimos informar pra equipe. Lorena me ligou e ficamos falando um pouco. Ela fez suas observações e sugeriu eu ir para a Mirim logo, caso realmente quisesse parir lá. Depois que desliguei fui comer, rs. E as contrações de fato não cessaram mais, mas de longe eu sabia que ainda iriam aumentar e muito; “é só fase latente”, pensei eu. Acordamos Bê: -Seu irmão tá chegando! Ele acorda todo animado!!!! Organizamos o que faltava e saímos. No caminho fui falando com Sol (que não me atendeu nem viu mensagens) e com Chênia (que retornou um pouco depois). Mandei mensagem para a XamAM que respondeu quase imediatamente: - Estou aqui!
Chegamos por volta das 03:00 e aí eu comecei a sentir contrações mais fortes (até então eu ainda duvidava que o parto engrenaria pelas contrações curtas, em torno de 30-40s). Eu fico na cama, respirando, acolhendo a dor forte que vinha cada vez mais forte. Lembro de ter agradecido à Deusa Mãe pela chegada dela e consagrei com a Artemísia me banhando com um perfume que eu mesma fiz.

Às 04:00 chegam Lorena, Tanila e Carol, contrações fortes e eu ainda na cama. Lore monitora Igor, mede pressão, etc. Eu ainda estava de posse da minha mente e verifiquei o foco alto à esquerda, rs. Logo depois fiquei na cama ainda e me deu vontade de cantar. Coloquei as músicas que havia escolhido no celular, pus os fones de ouvido e cantei alto. Me senti liberando o tanto de controle que ainda buscava ter sobre a situação. Ouvi Carne dos Deuses e comecei a me conectar com meus objetivos naturais.

Chega! Meu corpo pede movimento!
Vou na cozinha, troco ideia com as meninas entre uma contração e outra, falo algo com Bê, que estava desenhando e conversando em alta, super de boa, acho que comi ou bebi algo e tome-lhe dor. Fui para a bola embaixo do chuveiro. Lucas me acompanhou. Tanila chega com o óleo essencial de lavanda e foi um encontro lindo! Parecia que eu tava mesmo sendo lavada por dentro (muita gratidão à Lavanda e à Tanila). Mais um monitoramento e Lorena solta: tudo bem!
Tenho o desejo de ir na Grande Mãe (Templo da Terra). O dia já estava clareando. Até então meu objetivo era ir agradecer, pedir proteção e ajudar na descida de Igor com a caminhada (segundo instruções da Rainha da Floresta no rito que fiz semanas antes do parto). A cada contração um abraço em Lucas (exatamente igual ao parto de Bê). Na ponte me lembro de respirar e noto que as contrações ficam bem próximas umas das outras. Me agarro a Lucas em cada contração e sigo confiante (e com muita dor) para a Grande Mãe. Eram 2/3 passos e 1 contração. Respiro, pauso e sigo, no meu ritmo. 
No caminho das pedras Chênia chega com Ticiane. Naquela altura há não organizava pensamentos e Lucas era meu referencial de apoio. Caminho e chego. Na entrada da Grande Mãe me coloco que quatro num misto de felicidade e alívio, até a contração seguinte. 
Agora não sei mais se a sequência dos fatos é essa. ,
Falo pra Lucas: pede para as meninas encherem a banheira. Mais algum tempo e a XamAM chega e fala: cadê as roupinhas do bebê? Senti um alívio ao ouvir sua voz, pois era ela quem faltava para o rito seguir o fluxo. Meu parto foi um rito e ela tem me guiado nesse caminho da Deusa Mãe de forma muito precisa. O rito era parir a mim mesma e a quem eu buscava ser revelando minha força na morada de Pachamama, Mãe Terra.
Urrava! Ouvi seres invisíveis falando do sentido de estar vivendo aquilo. Frases que me lembro: “Morrer dói” “Se abrir dói” “Essa é a força viva e crua da natureza” “A força da transformação”. Chênia me pergunta: - Nega, tu vai parir aqui? E eu digo: - Não consigo sair daqui! Na verdade não queria! Nunca quis parir em outro lugar, mas era um desejo da alma, e não da razão. Ali aprendi que o destino se encarna quando ouvimos o chamado da alma.
A dor era forte. Lembro de falar isso no lapso de consciência: - Que dor!!! Deusa Mãe, me ajuda!!! A XamAM sábia, que conhece profundamente o meu chamado e meu caminho me diz firme, como a mestra que é: - Mude o foco! Mude as palavras!
As meninas chegam (Lore, Tani e Carol) com Bernardo e mais uma vez Lore me monitora: tudo certo! Respeitando sua função e também o meu rito, ficam assistindo e se organizando para a chegada de Igor ali no Templo da Terra. Peço forçar a Deusa Mãe e sinto a resposta chegando nas mensagens da mata que me acolhia, do chão que me apoiava, dos animais que me assistiam como mais um animal ali existindo. Lembro de visualizar um felino, uma onça, e ela me disse: A dor é força. E eu repito: - Eu sou forte!
Os puxos a essa altura já estavam nítidos, e a mim só restava me entregar a eles. A cada contração muitos gritos. Sentia que isso me abria. Em alguns momentos percebi nitidamente o trabalho do Avô Ar, tão presente, tão importante em cada respiração consciente (muito grata ao meu aliado amado). Cravava as unhas na Terra e sentia meu filho s e encaixando dentro de mim. Ele vinha em harmonia, encontrando seu caminho para o mundo. Lembrei de Bê falando em uma de nossas várias conversas: não deixa ele voltar! Ele viu um menino falando isso para mãe parindo o irmão dele em um dos vídeos de parto que vimos juntos. Isso me deu força! Não iria deixar ele voltar. Tive o prazer de sentir sua cabecinha saindo de dentro de mim com minhas mãos. Me coloquei de quatro e na seguinte contração Igor chegou com a força que fiz! E de uma vez só!
Lucas apara a chegada de Igor com a ajuda de Lore. Chênia segurou minha cabeça emocionada e disse: Ele nasceu! Você conseguiu! A XamAM com as ervas veio fechar o rito. Logo em seguinda Igor chorou. Forte! Meu menino da Terra chegou! Alguns segundos e nosso primeiro encontro. Seu corpo ainda em vernix e sangue, úmido dos meus fluidos, quentinho, firme, corado, vivo! Que alegria. A alegria era absoluta! Eu era só felicidade, gratidão e luz! 
Como não agradecer pelo milagre de viver essa experiência? 
Aos espíritos protetores daquela mata ancestral, às medicinas sagradas pela presença pulsante do Grande Mistério Sagrado, aos guias e mestres da curandeira que sou.
Ao meu corpo por ser esse portal de cura e de força.
À mestra Xamã Alba Maria, que me guiou na alvorada de uma madrugada em lua minguante no mergulho intenso do sagrado campo da Deusa Mãe, no Templo da terra, onde os sonhos são semeados e que brotam e enraízam.
À equipe tão respeitosa, parceira e competente, que soube acolher o sutil em um rito xamânico de parir.
À doula pela presença firme também, com olhar de amiga/irmã se colocando a serviço da fêmea parindo.
Ao amado companheiro, tão parceiro, tão presente numa força discreta e respeitosa, ao meu lado sempre, aprendendo junto esse caminho de amor.
Ao Bê, meu amigo, meu pequeno mestre, meu presente mais valioso, que na sua simplicidade e inocência traz tanta cura para mim desde que aportou em meu ventre.
Ao meu bebê Igor, que tão pouco é meu, e sim um parceiro de jornada que iniciou numa harmonia incrível regada literalmente a uma chuva fina de benção.


Hey Grande Espírito, Hey Grande Mãe, Hey XamAM!



Equipe Sobreparto - Lorena Santana e Tanila Amorim Glaeser
Fotos Carolina Lube - Kuara Fotografia

segunda-feira, 13 de agosto de 2018


Saudações!!!  Eu, Chenia d'Anunciação e a Milena Albergaria, somos Doulas negras soteropolitanas e fomos contempladas com bolsas integrais para o V Siaparto - Simpósio Internacional de Assistência ao Parto, que ocorrerá entre 7 e 9 de Setembro, em São Paulo. Esse evento será fundamental para nossa continuidade na atenção a gestantes negras periféricas, fortalecimento do movimento de humanização do parto e difusão do conhecimento.  Essa vaquinha tem o intuito  de fortalecer e concretizar a nossa ida a São Paulo, pois será a sua participação nessa partilha, para custear as passagens e despesas durante os dias desse evento.  Colaborem, compartilhem!  Somos Gratas!
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