terça-feira, 27 de novembro de 2012

Plano de Pós Parto


Muitas famílias organizam a gestação e parto dos seus rebentos. Atualmente as mulheres tem optado por fazerem o plano de parto, que é uma carta onde ela e o companheiro descrevem o que querem ou não durante o trabalho de parto, parto e assistência ao recém nascido. Não é uma carta de exigências, mas de desejos, que podem ser alterados de acordo com o desencadeamento do trabalho de parto e do parto. 

Chenia, Zaya e Onildo
O que venho falar aqui é que depois de 40 semanas (aproximadamente quanto dura uma gestação) de planejamentos e preparativos, quando se está com o bebê em casa, muitas se dão conta de que, para além do plano de parto deveriam ter feito também um plano de pós parto. 

A legislação vigente só concede ao pai, licença paternidade de 5 dias, talvez por compreenderem que o pai na verdade, só deve ter tempo de registrar os seus filhos, haja vista tantas campanhas do ministério público prol o reconhecimento de paternidade. E nenhuma por parte do governo para paternidade presente e consciente. 

Durante o pós parto, assim como na gestação e no parto, a mulher passa por várias mudanças biológicas, psicológicas, relacionais e sociais. Diminuição do estrogênio e progesterona e aumento na produção da prolactina. Essas mudanças podem ser intensificadas por uma imposição social que imputa à mulher a condição de ser mãe e junto a isso amorosa, dedicada, e capaz de despender qualquer sacrifício, sem sentimentos de perdas, por sua prole e pela família. 

Soneca de Zaya
Fatores como baby blues, depressão pós parto, fadiga excessiva, queda de cabelos, manutenção do peso anterior a gestação, falta de apetite sexual, nesse modelo de supermãe, não são condizentes com a boa mãe. Cobranças são feitas a todo o tempo de forma velada ou explicita, afinal a mulher moderna tem que estar pronta para desempenhar diversas funções simultaneamente, sem fraquejar, sem reclamar, pois não é isso que queríamos, que lutamos, que queimamos sutiãs? 

As mudanças significativas na assistência ao parto começam a ser efetivamente implantadas no Brasil em finais do século XIX, quando a medicina, tomou as rédeas desse evento. Até então, mas não somente, as mulheres eram cercadas por outras durante a sua gestação, parto e pós parto. Eram feitos rodízios de comadres, amigas, parteiras, mães, avós... todas essas estavam envolvidas no cuidar da outra e guardavam consigo o segredo e a magia que cercavam o gestar, parir e maternar. 

Dois séculos depois, após o parto, aquela que recebia telefonemas, visitas, emails, para saber de si durante a gestação, muitas vezes ficam por conta própria para os cuidados com a nova cria, da família, da casa e do trabalho. O foco agora é o bebê, ele é quem precisa de toda atenção e cuidado, a mulher é sutilmente negligenciada. 

E assim começa aquilo que chamo de esquizofrenia da menas main, tem que ser mãe, tem que amamentar exclusivamente em livre demanda, tem que manter o lar arrumado e limpo, as outras crias( quando hão) impecáveis! Tem que ser boa esposa, receber bem as visitas e ainda se manter em forma, linda, bela. Não há espaços para senões, para fraquejamento. 

Com a nova rotina instalada, como dar conta dos novos afazeres, da nova vida? 

Pensar em como serão esses primeiros dias, sobretudo os 30 primeiros, é indispensável para saúde materna, do bebê e da família. 

O bebê passa a ser um ente público, todos querem ver, render graças, ver sorrir, tomar banho, mamar, enfim, alguns até protagonizam o seu próprio reality show nas redes sociais, que dão notícias da vida cotidiana, quase que online, e ai daqueles que queiram isolar-se dela. 

Não somente na maternidade, mas atualmente as vidas que, por uma regra de conduta burguesa do início do século XX, deveria se manter privada, hoje, voltamos a publicização escancarada e por vezes, mal elaborada das nossas intimidades. 

Visita da Dinda Reijane dos primos Micael e Larissa e do Tio Mica
O ideal é organizar sua rotina.
Agende suas visitas, mande-lhes carta de comportamento, explique que agora o momento é outro. 

Por mais que as apelações externas venham: parentes que moram distantes, que moram perto, amigos e afins, você deve se preservar durante o puerpério, abrindo portinholas aos que lhe farão bem, sem culpas. 

Explique que não é acertado fazer visitas pelo menos 30 dias depois do parto. O primeiro mês é o mais delicado, a família está se adaptando a nova rotina com o filhote e este idem, é preciso deixar espaço e ser necessário quando convidado e não quando se quer ser. 

Se as visitas forem imprescindíveis estabeleça regas como horários, tempo de duração e arranjos caso algum empecilho ocorra como: desconfortos do bebê, cansaço da materno, ou tão somente falta de disponibilidade em atender quem chegou, sem pesar, sem ressentimentos. 

Afaste-se dos palpiteiros de plantão (Seu leite é fraco, eu dava mingau a noite, seu marido não vai aguentar essa rotina, não há problemas em dar leite A ou B, e sobretudo os da teoria criei 100 com leite de lhama com achocolatado e não morreu nenhum, vai saber... a morte física não é a pior morte, existem muitas subjetividades).
Agora é sua vez de maternar e insegurança pode e deve aparecer, pessoas que só fazem lhe deslegitimar não ajudarão em nada, só trarão suas próprias inseguranças para somar as suas, não é hora de ser terapeuta do outro. 

Você precisará de companhias, que respeite o seu momento, e que estejam prontas a ajudar de fato. Alguém para ficar com o bebê para que possa tomar um banho mais demorado, para tirar um cochilo, mas sem que isso seja uma imposição, mas uma necessidade partindo de você. 

Se puder, tenha uma diarista para dar conta dos serviços domésticos, ou talvez pessoas da família que estejam dispostas a ajudar sem cobranças, as visitas também poderão colaborar lavando pratos, catando as fraldas, fazendo uma comida, enfim, você é a dona da varinha de condão. 

Reunião da Aldeia Materna
Construa seu círculo feminino, sua Aldeia Materna, mulheres amorosas, aquelas que poderão lhe dar um help naquela hora em que o bebê está com cólicas, que dispõe de "5 minutinhos" no telefone para você contar o dia, chorar as pitangas, dizer o quanto seu bebê é lindo, fofo e está tão feliz, ou não, pois não estar feliz não lhe faz uma mulher atípica, muitas de nós passamos por isso, então compartilhe, se desejar, com pessoas que poderão lhe ajudar de fato. 

Envolva seu companheiro nesse processo, afinal quando nasce uma mãe, nasce também um pai, que cada vez mais está presente e ativo na paternidade consciente. Momentos como tomar um banho de chuveiro com o bebê ajuda nessa formação do vínculo dá uma trégua para você e reforça os laços familiares. 

Saia da teoria de que homens não sabem cuidar, pegar ou trocar o bebê, ser pai e mãe é um construção social e  psico-afetiva. 

Converse com seu companheiro, ouça ele também, estabeleçam momentos de intimidade nem que seja para ficarem juntinhos numa sonequina, ou vendo um filme, sem pensar se dará tempo de ver os créditos. 

Avó materna Sisi e avó paterna Lindinha
As avós (materna ou paterna) em geral estão dispostas a colaborar, tendo o know-how de  sua experiência materna, conte com elas, são de grande ajuda, mas peça licença para maternar! Afinal a mãe agora é você, estabeleça limites, é muito importante para sua estima, saúde e crescimento e claro uma mãe tranquila e segura terá muito mais chances de ter um bebê idem. 

Não tenha receio de ter um calundu homérico. Depois de um tempo coloque a culpa nos hormônios e se for o caso peça desculpas kkk. 

Pessoas sensíveis entenderão os seus motivos, seus desejos, lhe respeitarão! 

Eu, Onildo e Zaya - Foto de Ieda Marques

Essas são algumas considerações que faço pensando nos diversos relatos de mulheres, que vi, que li, que convivi e também na minha experiência como mãe, mulher, doula e artesã de slings. 

Um caminho de luz para essa nova família! 


5 comentários:

  1. Adorei Chenia! Posso divulgar no Blog Info Brasília? Beijos

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  2. Maravilhoso texto, Chenia. Cheio de bossa, completamente embasado tanto na sua experiência pessoal quanto profissional. Que lindo ver uma pessoa colocar-se com tanta disponibilidade para esta linda causa das mulheres, seus bebês, seus casamentos e suas famílias. Você faz um bem enorme a muita gente! Vou compartilhar este texto, porque ele é mesmo um achado.

    Um beijo muito grande, cheio de admiração,
    Alexandre.

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  3. Chenia,
    Amei teu texto!
    Posso divulgar no Blog do Nascer Sorrindo?
    http://gapp-gruponascersorrindo.blogspot.com.br/
    Um abraço, Zezé

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