segunda-feira, 4 de março de 2013

Doulas na luta pela humanização do parto

Chenia d'Anunciação no parto de Vanessa Pimenta.
Foto de Hellen Chang
Conheça o trabalho das doulas, que vem ganhando visibilidade nos últimos anos

Dar um suporte contínuo a gestante, prestando assistência física e psicológica, favorecendo a evolução do parto e o bem-estar da mulher, lhe transmitindo confiança e encorajamento durante o trabalho de parto, estes são uns dos trabalhos de uma doula. Significando ‘mulher que serve’, em grego, os benefícios de ter uma doula neste momento tão delicado na vida de uma mulher está ganhando visibilidade nos últimos anos, mesmo sendo uma ocupação muito antiga.

 Com várias mobilizações no Brasil em prol do parto humanizado, em um país líder mundial em cesarianas (em 2010, o Brasil atingiu a taxa de 52% de cesáreas anormais, na rede privada de saúde a média é que apenas 18% dos partos são normais, quando o recomendado pela Organização Mundial de Saúde é de que apenas 15% das mulheres devem precisar passar por este procedimento para ter seus bebês), as doulas fazem um importante papel de conscientização de que gravidez não é doença e sim algo natural.

“Na verdade, é uma assistência que uma mulher presta a outra. O trabalho da doula é ajudar na preparação do pré-parto, assistir o trabalho de parto e dar assistência no pós-parto. Eu marco dois encontros oficiais, no primeiro eu converso com a mulher e fazemos o plano de parto, que é uma carta que ela explica como vai querer seu trabalho de parto, discutimos minuciosamente os itens, se ela deseja tomar anestesia, se deseja comer, caminhar livremente, se ela aceita ter sua bolsa rompida de rotina, se aceita ocitocina sintética e se for necessário uma cesariana, como é que ela quer que seja esta assistência. Isso ajuda a visualizar a hora de dar a luz, ela fica sabendo de todo o procedimento da rotina hospitalar, ou se desejar domiciliar, conhece a fisiologia de parto e até como deve se comportar. Tudo isso, a gestante também vai discutir com o médico dela e vai explicar que quer uma doula no centro obstétrico e no seu apartamento. Durante o acompanhamento, eu forneço textos informativos, artigos científicos e comunidades de discussão na internet”, explica Chenia da Anunciação, que é doula há dois anos.

 No segundo encontro, é realizado um treinamento para a hora do parto, quando são apresentados óleos para aromaterapia e massagens, são feitos exercícios com a bola suíça e, se o parto for domiciliar, toda a estrutura é analisada. “Eu mostro os óleos que uso, ela sente os aromas, explico a ação de cada um, da lavanda, da canela, do alecrim. Alguns servem para ajudar a relaxar, outros para dar uma intensificada nas contrações. Fazemos um treinamento com a bola, junto com o marido dela ou com alguém que vai acompanhá-la. Se o parto for domiciliar, a gente pensa na estrutura da casa, onde vai colocar piscina, tudo o que vai precisar, a gente faz todo este preparo”, disse Chenia.

O parto

Diferente de uma enfermeira obstetra ou uma parteira, a doula não tem autorização para fazer nenhum procedimento clínico como ausculta fetal, aferir pressão ou exame de toque vaginal. Quando entrar em trabalho de parto, a gestante liga para a doula, que fica disponível a qualquer hora do dia ou da noite. “Então eu vou para a casa dela, ficamos lá um tempo e depois a gestante é encaminhada para o hospital. Lá eu assisto o parto, sempre junto com uma enfermeira obstetra ou com um obstetra, nunca sozinha, mesmo em partos domiciliares. Eu fico no hospital até umas duas horas depois do nascimento do bebê. Uma mulher assistida por uma doula é diferente de quando ela está sozinha dentro de um hospital, ela se sente mais segura. Damos total apoio psicológico, tem uma hora no trabalho de parto que a mulher tende a fraquejar, quando já está chegando no final, que ela fala que não agüenta mais, está cansada, é quando as contrações ficam mais intensas. Então este é o momento que a gente olha no olho dela e fala que ela pode, que ela se preparou para isso, que ela acredite. Nós encorajamos, fazemos massagens, relaxamentos, aproximamos o companheiro dela, levamos instrumentos como um espelho, quando ela acha que não vai dar conta e ela vê o bebê coroando, então ela tira mais força”, afirmou a doula.

Depois do parto, outra visita é feita, quando a mãe já está em casa. A doula dá orientações sobre amamentação, pergunta à mulher como está à relação com o marido, como ela está se sentindo emocionalmente e como foi à experiência do parto.


Reconhecimento

 A profissão de doula ainda não foi reconhecida pelo Ministério do Trabalho, mas passa a constar, a partir deste ano, na lista da Classificação Brasileira de Ocupações (CBO). Para ser doula é necessário fazer um curso preparatório, que é disponível em diversas capitais. “Depois que eu fiquei grávida, eu descobri como é difícil parir aqui no Brasil. Um ano depois do nascimento da minha filha, eu fui para São Paulo fazer o curso de doula, temos cursos sérios em todo o Brasil. Foram 32 horas de aulas, onde aprendemos a fisiologia do parto, identificar qualquer tipo de emergência e intercorrências como se, de repente, o bebê nasce sem a mulher ter chegado no hospital, o que devemos fazer. Mas, é a prática que dá a maior dimensão disso tudo. Já dei assistência a mais de vinte mulheres, nesses dois anos, e é uma procura crescente. As mulheres sabem que parir é algo fisiológico, é natural, quando ela procura uma doula, é para que possamos ajudar a gestante nesse processo de transição”, afirmou Chenia.

 A presença de doulas no centro obstétrico gera diversas opiniões entre os médicos, alguns são favoráveis, e inclusive recomendam que a mulher tenha o acompanhamento de uma, porém, outros acabam se incomodando. Para Chenia, isso acontece porque a doula acaba atrapalhando um pouco a rotina do médico. “Isso na visão dele, porque como a gente faz o serviço de informar a mulher, de dar poder a ela, de deixá-la ciente de si, que quem faz o parto não é o médico, é ela e o bebê, que o parto está no corpo dela. Uma mulher com este poder, não vai deixar o obstetra romper a sua bolsa com apenas cinco centímetros de dilatação ou não vai acreditar quando dizem que ela tem que ir para a cesárea porque o líquido dela está baixo ou alto, porque o bebê é grande ou é pequeno, que ela não tem passagem. Infelizmente os médicos usam vários artifícios para levar a mulher para a cesariana”, revelou a doula.

 “A emoção de ver nascer um bebê é muito grande, eu sempre choro, porque eu acompanho a história de vida da mulher, conversamos muito, a gente acaba criando um vínculo. É muito emocionante porque quando nasce um bebê, nasce também uma mãe, um pai, nasce uma família, é um momento mágico, tem que ter olhos atentos para a gente ver”, revelou Chenia.

FONTE: Da Redação

Matéria publicada no Jornal Folha do Estado de Feira de Santana-Ba.
http://www.jornalfolhadoestado.com/noticias/10246/doulas-na-luta-pela-humanizacao-do-parto

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